segunda-feira, 23 de março de 2009

O Radiohead passou por ali

Foto do Silvio Tanaka

Não fui ao show do Radiohead, nem no Rio de Janeiro nem em São Paulo e neste momento começo a ler relatos de pessoas que foram e dizem que foi um momento inesquecível, perfeito e histórico. Fico um pouco triste por não estar presente, mas como todas as bandas históricas de minha vida eles têm um show que frequento todos os dias em meu subconsciente.

As músicas são aquelas que tocam minha alma, me carregam até o alto da alegria perfeita e me derrubam no chão para sentir o gosto do prazer ainda em meus lábios. De todas as bandas que moldaram meu caráter e minha personalidade o Radiohead teve um papel fortíssimo em me manter na linha torta da vida (pois a linha reta não existe). Thom Yorke com suas confissões sempre foi um confidente e parceiro de desgraças e alegrias. Sua voz consegue me arrepiar todas as vezes que ouço o começo de diversas de suas músicas.

Ainda lembro no final de minha adolescência, (ou seria o meio dela?) escutar Radiohead pela primeira vez e sentir um abraço quente e terno em minha alma de alguém que consegue compreender minhas dores e fazer delas curas. Após ouvir tal voz angelical contando os mais íntimos segredos fui procurar a imagem de tal voz e vi um rosto distorcido, um olho caído e aquilo fez gostar deles ainda mais. O belo saindo do feio, a dor criando a beleza, a dificuldade cria o homem. O ciclo completo em uma só pessoa e uma banda que serve de complemento ao todo.

Eles estiveram no país onde moro, em cidades relativamente próximas, mas longe demais para o meu bolso neste momento. Não quis ver eles no Multishow pois sabia que este canal os cortaria completamente… dito e feito, povão detonando nos comentários do próprio site do canal por terem passado apenas um pedaço do show e cortado para o Big Brother. Neste momento estava dormindo tranquilamente e sonhando com coisas que não fazem sentido.

Espero honestamente que o Radiohead continue a existir, para que no dia em que puder vê-los eles façam o show inesquecível e perfeito que fazem em minha mente, agora para os outros sentidos de meu corpo. Estarei lá, na terceira fila, porque na primeira e segunda só ficam as pessoas que gostam de serem esmagadas.

SETLIST

15 Step
There There
The National Anthem
All I Need
Pyramid Song
Karma Police
Nude
Weird Fishes/Arpeggi
The Gloaming
Talk Show Host
Optimistic
Faust Arp
Jigsaw Falling Into Place
Idioteque
Climbing Up The Walls
Exit Music (For A Film)
Bodysnatchers
Videotape
Paranoid Android
Fake Plastic Trees
Lucky
Reckoner
House of Cards
You and Whose Army
Everything In Its Right Place
Creep

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Medo do prazer

Quando me vejo diante da tão amada arte, o processo de auto-sabotagem começa a borbulhar dentro de minha mente. Todo tipo de empecilho é criado para que a pintura não seja feita (falta tela, falta tinta, não quero sujar o chão) todos em formatos de gritos repetitivos e com o tom de súplica.

Tento compreender o motivo de tais empecilhos internos, o que os desperta e por que não consigo me livrar de vez deles. O momento da pintura é quando é revelada minha verdadeira personalidade, o EU verdadeiro muito discutido em diversas linhas de pensamento da personalidade. Este eu seria alguém tão diferente do autor que conversa diariamente com as pessoas na rua? Não, ele apenas é mais intenso e explosivo. Mas este eu pode se dar ao luxo de ser dessa maneira, quase uma criança malcriada com as tintas nas mãos e o desejo de mudar o mundo no grito de seus traços, ela é morta assim que o quadro é finalizado. O eu comum fica e tem que lidar com os estragos ou construções da criança.

Neste momento o “mundo real’ entra em cena: como vender estes quadros? onde guardar mais quadros? seriam bons o suficiente para uma exibição particular? quem eu conheço para organizar uma exposição? yada, yada, yada…

Estas questões todas vêm da criação na idéia de que o artista tem que ser alguém que sofra. Suicida, bêbado, drogado, destrutivo, impertinente, mas que no final sempre cria algo tão belo e genuíno que as pessoas normais sentem vergonha por julgar o artista inconsequente durante todos os dias em que agia como uma criança.

Depois de diversos empregos onde minha criatividade foi podada até o chão e minha única missão era repetir ações mecânicas, que nunca exigiram o verdadeiro pensamento artístico. Me encontro na encruzilhada de ser o EU real, de certas maneira inconsequente (porém livre) ou o EU engomado e cabisbaixo que toda manhã segue rumo ao trabalho que dará o salário para manter a casa e os luxos do dia-a-dia (porém pobre e quase explodindo de tédio por dentro).

Procuro na literatura uma maneira de utilizar os dois no momento correto, mas ainda não encontrei uma verdadeira teoria ou maneira de utilizá-los ao mesmo tempo e sair satisfeito. No Budismo se ensina que nós devemos manter a mente aberta e limpa para quando o problema chegar, lidarmos com ele da maneira mais simples e eficiente o possível. Existem também livros de Administração que seguem essa linha, sendo o carro-chefe deles o Get Things Done (A Arte de Fazer Acontecer) do David Allen, com um método que em sua organização e métodos fixos esvazia a mente de quem a pratica.

A mente limpa é a única maneira de se conseguir administrar os diferentes EUs que possuímos, pretendo aplicar cada vez com mais afinco a meditação, prática da qual ando fugindo mesmo que ela me dê um prazer imenso. Praticá-la diariamente, ou como deve ser feita em cada segundo de nossas vidas.