segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Medo do prazer

Quando me vejo diante da tão amada arte, o processo de auto-sabotagem começa a borbulhar dentro de minha mente. Todo tipo de empecilho é criado para que a pintura não seja feita (falta tela, falta tinta, não quero sujar o chão) todos em formatos de gritos repetitivos e com o tom de súplica.

Tento compreender o motivo de tais empecilhos internos, o que os desperta e por que não consigo me livrar de vez deles. O momento da pintura é quando é revelada minha verdadeira personalidade, o EU verdadeiro muito discutido em diversas linhas de pensamento da personalidade. Este eu seria alguém tão diferente do autor que conversa diariamente com as pessoas na rua? Não, ele apenas é mais intenso e explosivo. Mas este eu pode se dar ao luxo de ser dessa maneira, quase uma criança malcriada com as tintas nas mãos e o desejo de mudar o mundo no grito de seus traços, ela é morta assim que o quadro é finalizado. O eu comum fica e tem que lidar com os estragos ou construções da criança.

Neste momento o “mundo real’ entra em cena: como vender estes quadros? onde guardar mais quadros? seriam bons o suficiente para uma exibição particular? quem eu conheço para organizar uma exposição? yada, yada, yada…

Estas questões todas vêm da criação na idéia de que o artista tem que ser alguém que sofra. Suicida, bêbado, drogado, destrutivo, impertinente, mas que no final sempre cria algo tão belo e genuíno que as pessoas normais sentem vergonha por julgar o artista inconsequente durante todos os dias em que agia como uma criança.

Depois de diversos empregos onde minha criatividade foi podada até o chão e minha única missão era repetir ações mecânicas, que nunca exigiram o verdadeiro pensamento artístico. Me encontro na encruzilhada de ser o EU real, de certas maneira inconsequente (porém livre) ou o EU engomado e cabisbaixo que toda manhã segue rumo ao trabalho que dará o salário para manter a casa e os luxos do dia-a-dia (porém pobre e quase explodindo de tédio por dentro).

Procuro na literatura uma maneira de utilizar os dois no momento correto, mas ainda não encontrei uma verdadeira teoria ou maneira de utilizá-los ao mesmo tempo e sair satisfeito. No Budismo se ensina que nós devemos manter a mente aberta e limpa para quando o problema chegar, lidarmos com ele da maneira mais simples e eficiente o possível. Existem também livros de Administração que seguem essa linha, sendo o carro-chefe deles o Get Things Done (A Arte de Fazer Acontecer) do David Allen, com um método que em sua organização e métodos fixos esvazia a mente de quem a pratica.

A mente limpa é a única maneira de se conseguir administrar os diferentes EUs que possuímos, pretendo aplicar cada vez com mais afinco a meditação, prática da qual ando fugindo mesmo que ela me dê um prazer imenso. Praticá-la diariamente, ou como deve ser feita em cada segundo de nossas vidas.